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Tudo bem não estar nada bem!!

Precisamos respeitar nossos sentimentos, e saber como lidar com eles…

 

Algumas ideias, palavras e comportamentos nascem no íntimo do meio corporativo e vão se tornado bordões, como aqueles dos programas de humor, que de tanto serem repetidos, acabam entrando no imaginário coletivo e sendo reproduzidos como verdades universais.

 

O tempo passa e com ele novas palavras de ordem surgem – muitas vezes não passam de variações sobre o mesmo tema ou ideias requentadas; mas a adesão dos profissionais precisa ser instantânea, sob o risco de se tornarem obsoletos.

Já houve a época do “ser multitarefa”, da “reengenharia”, do “fazer mais com menos”, do “líder servidor”… sempre com foco em ser mais, melhor e estar à frente.

Alguns dos chavões que estão bombando por aí no momento são o “ser focado” (em diversas conjugações), o “fazer acontecer”, o ter “sangue no olho” (antes queriam que tivesse brilho, vai entender!?) e a “faca nos dentes”; tem que ter e ser de “alta performance” e dar “salto quântico”.

E as pessoas vão incorporando esses conceitos, essas ideias e comportamentos meio sem refletir se isso combina com elas, com sua forma de ver o mundo, com seu propósito de vida. Vão aos poucos vestindo uma carapaça para se encaixar nesse mundo competitivo. Mas tem que ser uma carapaça meio camaleônica, porque sabe-se lá qual vai ser a próxima ideia que vai surgir ou o comportamento que se espera.

Mas quero dar destaque para uma que está bem na moda. A tal da RESILIÊNCIA. Emprestada da física – e muito mal entendida na maioria das vezes, essa característica define aqueles materiais que, após terem sido submetidos ao estresse (pressão, torção, tração ou variações de temperatura) não só voltam ao seu estado anterior quanto adquirem mais resistência. Ou seja, eles ficam “melhores”.

O que me inspirou a refletir sobre o tema foi uma situação que vi na TV. Num desses realities show de culinária onde se pretende descobrir o maior mais novo maior talento do trimestre da cozinha brasileira, uma participante apresentou um prato que, em tese, seria simples, mas que ela errou redondamente. A coisa que ela colocou diante dos jurados era feia, confusa e de sabor duvidoso.

Com aquele teatro esperado, os julgadores criticaram duramente a preparação, colocando-a entre os piores pratos do dia. A cozinheira recebeu calmamente as palavras depreciativas, se desculpou e voltou ao seu lugar.

A coisa ficou interessante quando a cena se deslocou para os bastidores, onde os participantes falam apenas para a câmera sobre os acontecidos. E ela começou mais ou menos nessa linha: “foi bom que eles me criticaram, é importante para que eu me aperfeiçoe, temos que estar preparados para isso e eu entendo que é para o meu crescimento…” Um breve silêncio e ela arremata: “é tudo mentira! Eu estou arrasada!”.

Ela queria se mostrar resiliente. Mas não deu!

Acredito que a “resiliência” tem ganhado destaque em função do momento de crise que vivemos. Afinal, os quadros nas empresas reduziram, o que leva a mais trabalho com menos pessoal; está mais difícil de vender, de se colocar no mercado, de pagar as contas, de “aguentar o tranco”. Haja resiliência mesmo!

O caso é que, como temos que “incorporar o papel” – e o do momento é o de ser resiliente – achamos que temos que estar bem com tudo, o tempo todo, mesmo que as circunstâncias gritem o contrário. Temos que ser super, temos que ser master!

Mas isso leva a um sofrimento terrível, porque nos desconecta dos próprios sentimentos e, por consequência, de nós mesmos!

Existem momentos que, sim, nada está bem. E tudo bem se sentir assim! Mesmo que seja para o crescimento, para o aprendizado, para se tornar uma pessoa melhor, as situações adversas às vezes (quase sempre) são uma droga mesmo! E podemos (devemos) nos permitir sentir tristeza, desesperança, raiva; às vezes dá vontade de “chutar o balde” mesmo. Tudo bem!

Há uma grande distância entre o que sentimos e o que fazemos, o que normalmente não é bem entendido. Os sentimentos em si não são nem “bons” ou “ruins”, todavia, podemos ter reações adequadas ou não para o contexto, para o ambiente, para o momento da vida, para as circunstâncias de trabalho, renda, etc.

É legítimo sentir-se mal quando as coisas vão mal; também é legítimo sentir-se bem quando vão bem; assim como se sentir bem se tudo vai mal. São SEUS sentimentos, que te transmitem uma mensagem (que podem até estar enganados às vezes), mas são SEUS, fazem parte de quem você é! Negá-los é, de certa forma, negar a si mesmo! São os comportamentos, derivados desses sentimentos, que precisamos dar atenção e gerenciar de forma adequada.

Nesses tempos de felicidade urgente e instantânea, de que tudo tem que ser levado “de boas”, de efêmeras “lições eternas de sabedoria”, parece que somos proibidos de sentir tristeza, frustração, medo, raiva, culpa.
Pense nisso. E tudo bem se não estiver nada bem!

 

Pedro Paulo de Souza
Com mais de 20 anos de experiência na gestão de Equipes e Processos Organizacionais, Desenvolve Estratégias de Alto Desempenho com Pessoas, Líderes, Equipes e Empresas. É Consultor Organizacional e Psicólogo, com formação em Coaching, Liderança Coaching e Empreendedorismo pelo EMPRETEC/ SEBRAE.